Comitê da engenharia lança proposta para reindustrializar o Rio de Janeiro

Integrante da iniciativa, o geólogo Guilherme Estrella alertou para o PL que autoriza contratação de profissionais estrangeiros no setor, segundo ele um crime contra a engenharia nacional.

Intitulado “Uma nova engenharia e arquitetura”, um conjunto de propostas para o Rio de Janeiro voltar a ter uma indústria relevante foi aprovado nesta quinta-feira (14), durante o lançamento do Comitê de Luta da Engenharia em Defesa da Soberania e da Democracia, na sede do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro (Senge RJ). O documento foi elaborado pela comissão organizadora e acolhido por aclamação. Estiveram presentes ao evento engenheiros, arquitetos e outros profissionais com atuação destacada em diversas entidades do setor, além da deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) e de vários pré-candidatos a deputados federais e estaduais.

“O desenvolvimento científico e tecnológico — de especial o provocado pela Transformação Digital, a Revolução Agropecuária Moderna e a Indústria 4.0 — representa um desafio e uma oportunidade para reindustrializar o Brasil, e especialmente o estado do Rio de Janeiro, que já foi o segundo estado e hoje é o sexto em termos de emprego industrial”, afirma o documento, lido durante o evento pelo geólogo Guilherme Estrella, defensor histórico do papel estratégico da Petrobras, tendo chefiado a equipe responsável pela descoberta das reservas de petróleo na camada pré-sal.

O “pai do pré-sal”, como ficou conhecido, também alertou para o risco de aprovação de um projeto de lei do Poder Executivo, o PL 1024/20, “que altera as regras de registro profissional de engenheiros e firmas nos conselhos regionais (Crea) para facilitar a contratação de estrangeiros”. Segundo Estrella, o PL “é um crime contra a engenharia nacional”. Ele destacou a importância do movimento em defesa da soberania e da democracia, principais fundamentos dos comitês que estão sendo criados por diferentes categorias, em todo o país. “Estamos nos aproximando de um momento decisivo”, ressaltou. “Se seremos um país a serviço do capital financeiro transnacional, não soberano, isso vai ser decidido agora.”

O engenheiro eletricista Olímpio Alves dos Santos esclareceu que o comitê não tem nenhum vínculo com as entidades a que estão vinculados seus integrantes, mas sim com a campanha da pré-candidatura de Lula  à Presidência. “Entendemos que é o governo que vai priorizar a soberania, superar as desigualdades e construir uma infraestrutura para este país”, justificou.

O Comitê dos Comitês
De acordo com Adeilson Telles, da CUT, coordenador do que foi batizado de Comitê dos Comitês, já são pelo menos 260 Comitês Populares de Luta no estado do Rio de Janeiro, ligados a categorias profissionais, bairros, movimentos sociais e outros grupos de interesses afins. “A nossa tarefa agora é justamente criar um cadastramento efetivo desses comitês para estabelecer uma rede de apoio e articulação”, explica.

Instalado fisicamente no centro da cidade, o Comitê dos Comitês já tem perfil no Instagram e prepara o lançamento de um site. Seu objetivo é fornecer material e suporte operacional e político, articular e fortalecer cada um dos comitês, com sua autonomia, identidade e forma de funcionar – digitalmente, reunindo pessoas para discutir propostas, com banquinhas na rua, etc.

“Teremos uma batalha árdua para ganhar a eleição; depois, para sustentar a vitória e mudar o país, para governar”, afirmou Adeilson. “E, para além do exercício heróico dos nossos deputados, vamos precisar do exercício heróico dos militantes comuns, que vão estar organizando os comitês, a nossa luta e a nossa resistência para conseguir reconstruir o Brasil. Os nossos comitês vão fazer campanha eleitoral, mas a tarefa deles transcende a eleição.”

Reindustrialização do Rio
O Comitê de Luta da Engenharia em Defesa da Soberania e da Democracia vai atuar, principalmente, na produção de projetos e debates sobre temas relacionados ao desenvolvimento nacional e fluminense, com ênfase na industrialização do estado. Segundo o engenheiro Júlio Vilas Boas, já em agosto haverá uma nova atividade do comitê, com parlamentares e formuladores de políticas.

O documento divulgado pelo comitê responsabiliza as diretrizes neoliberais, forçando uma vocação fluminense para os serviços, pelo “desmantelamento de setores industriais inteiros, e o desaparecimento, somente no Rio de Janeiro, de cerca de 50 mil empregos das categorias representadas pelo sistema Crea e CAU.”

Para recuperar o protagonismo do estado, os membros do comitê propõem investimentos em um  complexo industrial e de serviços da saúde; na base industrial da defesa, especialmente na área eletroeletrônica; na infraestrutura de educação, com a aplicação maciça da informática e das telecomunicações (5G), para professores, alunos e administradores escolares no processo de ensino-aprendizagem (como fizeram a Coreia, a Índia e a China); na agroindústria, nas áreas não recuperadas da cafeicultura obsoleta; na indústria de energias renováveis (solar, fotovoltaica e etanol verde); na indústria naval e a automotiva (tração elétrica e etanol verde); na indústria química, baseada nos insumos abundantes – petróleo e gás natural; e finalmente nas indústrias de bens de capital e de infraestrutura, que atuam como um bi polo econômico.

“O processo de reindustrialização será a ocasião ideal para criarmos uma nova engenharia e arquitetura no estado do Rio de Janeiro, com liderança nacional”, aponta o documento. “A política do Estado do Rio deve compreender um profundo e extensivo empenho para o aperfeiçoamento da educação de engenheiros, arquitetos, agrônomos, geólogos e outros profissionais dos sistemas Crea e CAU, sejam eles e elas empresários ou trabalhadores. Seu enfoque deverá basear-se na economia do conhecimento, especialmente em relação aos mercados em que atuamos e das tecnologias que utilizem nossos recursos naturais, ao invés de técnicas e recursos importados.”

Para isso, o comitê quer que a Faperj concentre a maior parte de seus recursos (2% do orçamento do Estado do Rio de Janeiro) em um programa de aperfeiçoamento dos profissionais, reformulando sua política de apoio à C&T, ora dispersa em 45 programas diferentes. “Deve articular, também, para o mesmo objetivo, o concurso dos recursos das empresas estatais e privadas que dependem da Engenharia lato sensu para o seu desenvolvimento (sistemas Petrobras, Eletrobras, Vale, Fiocruz, UFRJ, UERJ, UFF, estaleiros, indústrias farmacêuticas etc.). Finalmente, deve compreender também a especialização daqueles profissionais do sistema Crea-CAU na prevenção de desastres ambientais, no combate ao lançamento de efluentes não tratados e sem disposição final adequada, no reflorestamento, bem como na preservação de um ambiente saudável para a atual e futuras gerações (INEA, IBAMA, UERJ, UFRJ, UFF, etc.).”
Leia o documento Uma nova engenharia e arquitetura na íntegra

 

Para assistir na íntegra à inaguração do Comitê de Luta da Engenharia em Defesa da Soberania e da Democracia
https://www.youtube.com/watch?v=DFi49B1-DJg

Pular para o conteúdo