Dieese responsabiliza governo por inflação e concentração de renda

Mantendo-se o câmbio solto, a política de preços da Petrobras e a perspectiva de crescente instabilidade política, a carestia pode, infelizmente, seguir maltratando as famílias mais pobres do Brasil, alerta Nota Técnica divulgada em dezembro.

A Nota Técnica 264 – Inflação, conflito distributivo e escolhas do governo, publicada pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), aponta as escolhas políticas do governo federal como responsáveis, em grande medida, por uma maior concentração da renda no Brasil e pelo processo inflacionário atual.

O estudo analisa as causas da alta dos preços a partir do segundo semestre de 2020, as consequências socioeconômicas e a resposta mal-sucedida de política econômica. Segundo a nota, as projeções para o ano de 2022, realizadas por operadores do mercado financeiro e divulgadas pelo Banco Central, apontam para uma redução à metade da taxa de inflação, na comparação com 2021. Baseiam-se, fundamentalmente, nos supostos efeitos que a elevação da taxa básica de juros teria sobre os preços. “Contudo, ao se colocar em prática uma política monetária acentuadamente restritiva (de juros altos)”, alerta o Dieese, “tem-se como efeito imediato mais concentração da renda”.

Juros altos visam encarecer o consumo a prazo e o financiamento, reduzindo o volume de vendas “e aumentando o desemprego para impor, ‘a fórceps’, a mudança de preços relativos”, embora a inflação atual não tenha origem no aumento de demanda – pelo contrário.

“Por outro lado, se a intenção é influenciar o nível de preços futuros via valorização da taxa de câmbio, a instabilidade associada ao cenário eleitoral que se avizinha – onde historicamente o mercado pratica seu terrorismo, quando seu candidato não está à frente nas pesquisas – pode ser um forte empecilho. Concretamente, a combinação da queda no poder de compra, corroído pela inflação, com a elevação dos juros vai atrofiar ainda mais a estrutura produtiva e refrear os investimentos, afetando mais negativamente pequenas e médias empresas, empregos e salários, num país com mais de 13 milhões de desempregados/as e um tecido social esgarçado pelas reformas neoliberais e a crise dos últimos anos.” 

“Vale dizer, portanto, que na atual conjuntura, com as políticas de preços de energia (e demais preços administrados) e o fim dos estoques reguladores, passando pelo coeficiente de importação/exportação – resultados de décadas de políticas neoliberais -, até a gestão da política cambial e monetária pelo Banco Central, inexiste possibilidade de que esse processo não tenha implicações distributivas regressivas (que prejudicam os mais fracos, no mercado de trabalho e na estrutura produtiva).” 

“Mantendo-se o câmbio solto, a política de preços da Petrobras e a perspectiva de crescente instabilidade política, a carestia pode, infelizmente, seguir maltratando as famílias mais pobres do Brasil. Nesse cenário, a inflação pode até cair, mas a um custo social insuportável. Já os/as ganhadores/as, parece, seguirão sendo amparados/as com firmeza pelo governo atual em defesa de seus interesses.”
Confira a NT264/Dieese na íntegra:

https://www.dieese.org.br/notatecnica/2021/notaTec264InflacaoConflitoDistributivo.html

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