Instituto Telecom: Julinho, abutres e raposas

As eleições deste ano representam uma disputa entre a civilização e a barbárie, afirma editorial do Instituto Telecom. "Viva a verdadeira democracia – ecológica, trabalhista, social, tecnológica, digital."

Instituto Telecom*

Nas eleições deste ano está em jogo a luta entre a barbárie e a civilização. É preciso restabelecer a ordem democrática.

Não podemos aceitar a desigualdade social, a alarmante concentração de renda. Não podemos aceitar que o Pantanal seja queimado e a Amazônia destruída. Chega de matarem os índios!

Não podemos aceitar que a Oi demita milhares de trabalhadores e, ao mesmo tempo, distribua R$ 63 milhões para seus três diretores. Chega desses abutres!

Não podemos aceitar que os R$ 3,1 bilhões da licitação da faixa de 26GHz, destinados à colocação da banda larga nas escolas, sejam administrados única e exclusivamente pelo mercado. As duas instituições criadas para esse fim EACE (Entidade Administradora da Conectividade das Escolas) e GAPE (Grupo de Acompanhamento do Custeio a Projetos de Conectividade de Escolas) terão apenas representantes das operadoras e nenhum da sociedade civil. É a velha história da raposa tomando conta do galinheiro. Chega de favorecimento às grandes operadoras de telecomunicações em detrimento dos consumidores e da sociedade civil.

Não podemos aceitar que a desigualdade digital continue inviabilizando o exercício da democracia. O número de brasileiros plenamente conectados é de 49,4 milhões, concentrados nas regiões Sul e Sudeste, brancos, com celular pós pago, acesso por notebook, escolarizados, classes A e B. Já os 41,8 milhões de brasileiros subconectados estão nas regiões Norte e Nordeste, são negros, usam celular pré-pago, são menos escolarizados e pertencem às classes D e E. Chega de exclusão digital.

Não há democracia sem inclusão digital, pois esta possibilita a inclusão social, a melhoria da educação, da saúde, da segurança.

Repudiamos toda forma de exaltação à força, à ditadura a que fomos submetidos por 21 anos (de 1964 a 1985), à tortura. Repudiamos a censura imposta pelo Estado, mordaça que será sempre lembrada por um pseudônimo – Julinho da Adelaide, usado por Chico Buarque para fugir à perseguição e à censura de suas músicas durante os anos de chumbo.

Queremos uma verdadeira democratização das comunicações e não a liberdade de imprensa do mercado, que define o que podemos ver ou não. Chega de mentiras, de ódio, de golpes de 1964 e 2016, de concepções ditatoriais, de censura.

Chega de capitalismo, de ditadores, de raposas, de abutres, de torturadores. Viva Julinho de Adelaide! Viva a verdadeira democracia – ecológica, trabalhista, social, tecnológica, digital.

*Publicado no site do Instituto Telecom em  5 de abril de 2022

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